Empresários da Amazônia buscam protagonismo na COP30

A menos de um ano da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que acontece entre 10 e 21 de novembro, a cidade de Belém passa por uma transformação na sua infraestrutura e oferta de serviços. A movimentação já atinge os micro e pequenos empreendedores que se preparam para receber os visitantes e oferecer o melhor da tradicional hospitalidade amazônica.
Novas tecnologias na moda, produção de biojoias associada ao reaproveitamento, inovação em artigos de decoração com matéria-prima da Amazônia são alguns dos produtos que serão apresentados aos visitantes que chegarão ao estado do Pará para a conferência global do clima.
O governo brasileiro espera receber cerca de 100 mil visitantes ao longo das duas semanas de conferência, entre chefes de Estado, participantes e turistas que pretendem visitar a cidade no mesmo período. Em 2024, Baku, no Azerbaijão, recebeu 54.148 participantes presenciais entre delegações, observadores, convidados e equipe de suporte inscritos na COP29.
Atualmente, Belém possui 18 mil leitos em hotéis e deve alcançar 22 mil nos próximos meses com a inauguração de novas unidades já em construção. O número de unidades de hospedagem em residências e locais para temporada nos aplicativos mais utilizados no país também crescem a cada dia.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por exemplo, firmou parceria com um dos aplicativos para capacitação dos proprietários desses espaços e, apenas em 2024, o número de anfitriões na plataforma subiu de 700 para 3,5 mil, informou a instituição.
“As expectativas são as melhores possíveis, não só para novembro, mas também para antes e depois do evento. Para você ter uma ideia, o turismo no nosso estado já aumentou desde o anúncio de que a conferência seria aqui”, afirma Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae no Pará.
Uma dessas empresárias é Betty Saldarriaga, que é proprietária de um spa com hospedagem pós-cirurgia plástica. Ela possui unidades tipo suítes duplas, com duas camas de solteiro, que resolveu disponibilizar também para o turismo, inicialmente durante o Círio de Nazaré.
“Eles (os turistas) ficam muito satisfeitos com o nosso atendimento. Porque como eu já trabalho com hospedagem para cirurgia plástica, tenho um atendimento privilegiado, um atendimento muito humanizado. Então, a gente já sabe como receber as pessoas”, explica.
Segundo Betty, a capacitação recebida pelo Sebrae foi fundamental para diversificar a oferta de seu negócio, partindo também para a hospedagem de turismo por meio de uma plataforma. Após a capacitação, Betty passou a disponibilizar as unidades com agenda de atendimento livre nas ocasiões em que a cidade de Belém tem aumento na demanda por hospedagem turística, como a COP30.
“Todo mundo está falando aqui em Belém sobre isso. Inclusive eu estou indicando pessoas que têm suas casas, esses apartamentos, algum imóvel, para aproveitarem a oportunidade e receberam essas pessoas. Eu acho que vai ter bastante gente que vai ajudar bastante como no Círio”, diz.
De acordo com Magno, somente em 2024, o Sebrae realizou 18 mil atendimentos de empresas, dos setores de hospitalidade, alimentos e bebidas, mobilidade e economia criativa, interessadas em se preparar para a COP30.
“As empresas nos procuram em busca de orientações em assuntos como gestão financeira, precificação, estoque e atendimento, mirando o aumento de demanda que já chegou a seus negócios com a visibilidade trazida pela conferência da ONU”, diz.
Uma dessas empresas é da design Nilma Arraes, que produz biojoias e objetos autorais com responsabilidade ambiental. A empresária, que já passou por várias capacitações e também atua como consultora do Sebrae, vem inovando no reaproveitamento de materiais descartados de forma abundante na região.
“O foco do meu produto, desde sempre, ele tem tudo a ver com a COP, porque eu trabalho a sustentabilidade e o social também, além de eu trabalhar o meio ambiente. O meu trabalho é focado em não usar material que vai destruir e sim em reaproveitar aquilo que iria para o lixo”, explica.
Partindo dessa ideia, Nilma desenvolveu uma matéria-prima chamada Maria, uma abreviação para mistura de açaí com resina e insumos da Amazônia, com a qual produz biojoias e outros acessórios. Para a COP30, lançou a linha de luminárias, chamada Luz de Rios, elaboradas a partir do reaproveitamento de escamas do peixe pirapema, muito presente na costa paraense e consumida na culinária regional.
A estilista Val Valadares foi além e fez uma parceria com outra empresa paraense, responsável por iniciar um novo ciclo da borracha na Amazônia, e juntas lançaram uma coleção de moda feita de látex.
“Nós estamos estudando transformar a nossa borracha numa espécie de couro paraense inédito na moda. Fazendo peças exclusivas, já não vão ser peças em quantidade, mas exclusivas para artistas, para quem gosta de usar alguma coisa diferente. Então, eu estou agora aperfeiçoando essa possibilidade de forrar com acabamento 100% sustentável, para eu não precisar usar nenhum produto que não seja sustentável.”, diz.
A empresa parceira trabalha com 1.570 famílias de seringueiros, na Ilha do Marajó, a partir de tecnologias sociais que profissionalizam, comercializa biojoias de látex produzidas por mulheres de seringueiros e fornecem matéria prima para indústria de calçados.
“Todo seringueiro cadastrado nesse processo, ele põe uma etiqueta lá no Marajó, quando ele pesa o produto. Ela vem com o nome dele direitinho, chega aqui na fábrica, a gente pesa, confere a qualidade da borracha e deposita o dinheiro”, explica Francisco Samonek, coordenador do projeto que estruturou a marca.
Segundo Francisco, a capacitação oferecida pelo Sebrae permitiu que a marca se estruturasse com registro, inserção no mercado, divulgação e precificação, por exemplo. Também foi o ponto de conexão entre as duas marcas.
“Estamos trabalhando para capacitar os pequenos negócios locais para que quem venha ao Pará tenha acesso às belezas e riquezas da floresta pelas mãos de quem vive dela.”, reforça Rubens Magno.
i9 Brasil, com informações da Agência Brasil
Foto: Fernado Frazão / Agência Brasil
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