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Redes Sociais: Informação, Economia e o X da Questão

9 de outubro de 2024

Por Maurício Figueiredo*, professor da UEA e pesquisador nas áreas de Internet das Coisas, Sistemas Inteligentes, Aprendizado de Máquina Profundo, entre outros.

Nos anos recentes, o consumo de mídias digitais têm transformado significativamente a forma como nos comunicamos. Com o avanço das redes sociais, a exemplo do Facebook, Instagram, Twitter e TikTok, vemos não somente novos meios de interação social, mas também fontes primordiais de informação e negócios.

Redes sociais se tornaram fontes rápidas e acessíveis de conteúdo, permitindo que as informações se espalhem em tempo real. Nos dias de hoje, nos informamos muito mais rapidamente pelos apps do que pelas mídias tradicionais, cuja audiência cai ano após ano. Um relatório recente divulgado pela Kepios.com mostra que as redes sociais atingem mais de 60% da população mundial, seu uso cresce a cada ano (mais que 5% entre 2023 e 2024) e o Brasil se posiciona como um dos maiores consumidores desse tipo de mídia, ficando em segundo lugar em número de contas por cidadão. Com tantos dados online, essas redes também servem para estudos científicos sobre sociedades e cidades inteligentes, como por exemplo analisando impacto de pandemias ou violência urbana. Mais de 500 artigos são publicados por ano no ArXiv.org mencionando dados coletados do Twitter.

Além de meio de informação, as redes sociais desempenham um papel fundamental na economia moderna. Com o crescimento do comércio eletrônico, principalmente no pós-pandemia, plataformas sociais se tornaram essenciais para estratégias de marketing, vendas e atendimento ao cliente. Negócios de todos os tamanhos utilizam redes sociais para alcançar seu público-alvo de maneira direta e personalizada, criando campanhas publicitárias que engajam e fidelizam clientes. A interação em tempo real também permite que empresas respondam rapidamente a dúvidas e reclamações, melhorando a experiência do consumidor e fortalecendo a relação entre marca e cliente. Não existe empresa, hoje em dia, que não pense em uma mínima presença digital nas redes sociais. É uma forma extremamente democrática em que um prestador de serviço autônomo ou pequeno negócio pode atingir um grande público com apenas um celular na mão.

Mas como tudo na vida, existem prós e contras do avanço das redes. Também observamos um risco moderno afetando a privacidade e bem-estar psicológico dos usuários. A disseminação excessiva de informações pessoais expõe pessoas a golpes e fraudes. A exposição de vidas idealizadas buscando engajamento online tem sido associada a problemas de saúde mental, como baixa autoestima, ansiedade e depressão. Outro risco significativo é que o acesso massivo às redes sociais amplifica todas as vozes. Como exemplo, já convivemos com a proliferação de notícias falsas e desinformação, que podem influenciar opiniões públicas, provocar conflitos e prejudicar a confiança nas instituições.

A liberdade de informação e expressão, antes limitada ou inacessível pelas mídias tradicionais, traz consigo novas responsabilidades. É fundamental que toda a sociedade utilize essas plataformas com cautela e consciência, equilibrando seus benefícios com uma postura crítica e protegendo a privacidade. Esse é o caminho para uma espécie de alfabetização midiática dos usuários das redes sociais, na qual é fundamental que eles as utilizem de forma consciente e assumam a responsabilidade por suas ações. Além disso, lhes cabem discernir entre o que é útil, confiável ou não.

Outro caminho em discussão para mitigar riscos é o da regulação das redes sociais, onde governo e órgãos de controle definem medidas e políticas, por meio de normas ou legislações, que visem controlar, monitorar e orientar o uso dessas plataformas. No entanto, é fundamental que qualquer regulação proposta não comprometa os princípios que tornam essas plataformas tão valiosas para a informação e a economia. Regulações excessivas podem sufocar o potencial das redes sociais como espaços de pesquisa e desenvolvimento econômico, limitando a capacidade de indivíduos e empresas de se conectarem e interagirem de maneira produtiva.

Proteger a liberdade de expressão e o acesso à informação deve ser uma prioridade, evitando medidas que possam cercear a criatividade e a inovação. O X da questão é: Será que existe um equilíbrio que permita um ambiente seguro e, ao mesmo tempo, dinâmico e livre? Ou será que poderemos chegar a um dia em que a visão de um único regulador poderá comprometer a liberdade e os benefícios de muitos?

*Maurício Figueiredo é Professor associado da Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (EST/UEA), co-fundador do LSI – Lab. de Sistemas Inteligentes da UEA, pesquisador do Ocean Center, professor da pós-graduação em Ciência de Dados da UEA e professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Informática da Universidade Federal do Amazonas. Engenheiro Eletricista pela Universidade Federal do Amazonas, mestre e doutor em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na execução e gestão de projetos de P&D em parceria com empresas e projetos acadêmicos na área de Computação. Atua em temas relacionados a Internet das Coisas, Sistemas Inteligentes e Aplicações de Aprendizado de Máquina Profundo.

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