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A inovação não segue apenas o caminho do fazer diferente

2 de agosto de 2023

Por: *José Renato Sátiro Santiago é Doutor e Mestre em Engenharia de Produção pela USP. Consultor nas áreas de Gestão da Inovação, Gestão do Conhecimento, Capital Intelectual, Gestão de Pessoas, Gestão de Projetos e Lições Aprendidas.

‘Ato de tornar novo’, ‘dito como visto pela primeira vez’, ‘o que substitui algo’… são vários, dentre estes os significados utilizados para explicar inovação. Baseada em sua etimologia, o estudo que fundamenta o sentido das palavras, a partir da análise dos elementos que as constituem, deriva do termo em latim innovatio (in “em” + novus “novo”). De sua origem, parte de sua grande relevância.

Certa vez, durante palestra de um proeminente especialista em um congresso sobre inovação, notei o grande número de vezes em que foi exaltada a necessidade de ‘fazer as coisas de forma diferente’, algo que parecia ser vendido como essencial para a criação e perpetuação de um clima de inovação. Daí a eventual proximidade entre o diferente e o novo.

Ainda na década de 1970, Peter Drucker exaltou, pela primeira vez, a figura do trabalhador do conhecimento, aquele que se destacaria no mercado do trabalho por conta de um grande diferencial, a predisposição em criar, compartilhar e disseminar os conhecimentos desenvolvidos, não somente, ao longo de sua carreira, bem como junto aos seus colegas. O conhecimento como meio.

Filhos de uma mesma família, inovação e conhecimento, costumam se entrelaçar ao longo dos inúmeros processos organizacionais, muito por conta de algumas importantes semelhanças, o que, no entanto, não impede a existência de questões que tornam este parentesco mais parecido com a proximidade entre água e óleo.

O desenvolvimento e a estruturação do conhecimento sobre qualquer atividade é que garante a sua repetição, de forma até exaustiva, a ponto de tornar possível a implantação de melhorias que potencializem os melhores resultados. A busca pela excelência é o objetivo central de todo este ciclo. Durante esta caminhada, a inovação está presente a todo momento, justamente na repetição, e não por seguir a mote do ‘fazer diferente’. Sinais dos tempos. Drucker tem razão.

A vida real nas organizações assim se apresenta. Os processos devidamente estruturados, assim como o trajeto que nos leva de casa ao trabalho e vice-versa. Passamos a ter condições de inserir o novo no processo e/ou no caminho, a partir do momento que temos todo o conhecimento necessário para sua devida organização, quer seja ele tácito ou explícito. Quando isso ocorre, começam a ser inseridos novos players, maneiras, meios e trajetos alternativos, que sinalizam uma gentil piscadela em direção da inovação. Enfim, não se inova sem que haja profundo conhecimento prévio.

Inovar demanda o novo, conforme sua etimologia nos sugere, mas de forma muito conectada aos conhecimentos já presentes em nosso dia a dia. Daí esta questão irmanada que une conhecimento à inovação. Inovar é parir o novo a partir dos conhecimentos desenvolvidos e compartilhados ao longo da repetição de atividades e não, necessariamente, da insistente procura pelo diferente.

Impossível falar sobre inovação sem se colocar em prática os conhecimentos que perpetuam o óbvio e a mesmice. Maior verossimilhança, impossível.

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