#Artigo

Chat GPT e os novos desafios para a humanidade

15 de maio de 2023

Por Maurício Figueiredo*, professor da UEA e pesquisador nas áreas de Internet das Coisas, Sistemas Inteligentes, Aprendizado de Máquina Profundo, entre outros.

ChatGPT, chatGPT, chatGPT! Nos encontros com amigos, nas salas de aulas e nos eventos técnico-científicos em que participo tenho sido questionado cada vez mais sobre as possibilidades e o futuro das novas tecnologias de inteligência artificial (IA). Muitos falam sobre como a capacidade do chatGPT em interpretar grandes conteúdos em linguagem humana e responder a perguntas, permitindo a obtenção de informações com extrema agilidade, têm facilitado suas atividades do dia-a-dia. Por outro lado, são inevitáveis os questionamentos sobre os novos desafios que essas tecnologias irão nos impor.

Os impactos dessas tecnologias são tantos, muitos ainda inimagináveis, que até mesmo grandes nomes da ciência têm questionado a velocidade e desafios impostos por esses avanços. Poucos dias atrás, o cientista Geoffrey Hinton, um dos papas das redes neurais artificiais profundas, pediu demissão do Google e alertou para os perigos das novas IAs. Outros cientistas, como Elon Musk, emitiram carta aberta pedindo pausa no desenvolvimento dessas IAs. A preocupação é que a grande capacidade dessas tecnologias rapidamente ultrapasse a humana, nos colocando em algum risco.

Para acalmar o leitor, adianto que essas IAs (no momento), embora baseadas em redes neurais artificiais inspiradas no cérebro humano, ainda são modelos muito simples.  O chatgpt, por exemplo, é um algoritmo computacional que representa textos em números,  aprendendo padrões contidos na linguagem,  e geram novos textos em resposta do que seria esperado como sequência da conversa. Não há nesse processo qualquer mecanismo próximo a raciocínio ou imaginação, como os do ser humano. Mas por que suas conversas parecem tão naturais e inteligentes ao usuário? Porque esses modelos foram treinados sobre muitos conteúdos reais e com a técnica de usar o feedback humano como entrada para otimizações. Seus resultados são convincentes, mas não passam de boas representações de conteúdos existentes usados em seus treinos.

Esse último ponto já nos impõe um desafio: Como garantir conteúdos corretos e de qualidade no treino dessas IAs? É sabido que o ser humano apresenta vieses, conteúdos da internet muitas vezes expressam ideias impróprias, como preconceitos, então é possível que as IAs reflitam esses problemas quando treinados com esse tipo de conteúdo. Aqui já vemos outro ponto polêmico, o que essas IAs plagiam conteúdos de terceiros disponíveis na WEB, cabendo discussão de autoria e direito de uso. Sim, esse plágio é comprovado ocorrer seja com transcrições, paráfrases ou uso de ideias. Assim, aponta-se que conteúdos extraídos do chatGPT sejam sempre olhados com criticidade, com conhecimento e com a responsabilidade do bom uso.

Um consenso é que algumas profissões serão substituídas pela IA. Tradutores, codificadores, atendentes, redatores, revisores etc. Mas isso já é fato comum no surgimento de várias tecnologias, a exemplo de datilógrafos e telefonistas, substituídos no passado pelas tecnologias computacionais. O desafio, agora, é a velocidade com que essa revolução se impõe. O chatGPT é a tecnologia com adoção mais rápida do mundo, atingindo 1 milhão de usuários em apenas 5 dias. Mesmo em atividades em que o ser humano não seja substituído, o chatGPT traz maior produtividade por permitir a obtenção rápida de informações e reuso de conteúdos. Isso trará a necessidade da sociedade de rapidamente acomodar transições de funções e acelerar o processo de reeducação profissional. Em compensação, espera-se também o surgimento de novas funções, além daquelas relacionadas ao avanço da própria IA. Por exemplo, hoje se fala em engenheiro de prompt, uma pessoa especializada em interagir com a IA por meio de comandos eficientes e capazes de trazer respostas melhores e mais úteis.

Se alguém concorda que é melhor pausar o desenvolvimento dessas IAs, infelizmente informo que isso é impossível! Hoje, além do chatGPT, temos desenvolvimento do Bard da Google, LLama do Facebook e outras big techs anunciando seus modelos próprios. Temos várias versões totalmente abertas e gratuitas sendo desenvolvidas por garotos, em seus quartos, usando algumas horas de processamento de seus super PCs Gamers. Alguns podem interromper o treinamento de suas IAs, outros não vão, simplesmente porque as possibilidades de uso e aplicações são muitas: Automação de tarefas, uso de chat para aprendizado e treinamento onde condições de educação são precárias, rápido atendimento ao cliente por canais eletrônicos, melhor interação com pacientes nos cuidados pessoais e de saúde etc. Todos querem o seu personnal Jarvis (Marvel Comics). Mas vejam que a tecnologia terá usos nobres e socialmente relevantes, portanto, não podemos abrir mão desse avanço tecnológico, assim como vários anteriores que ajudaram a evolução da humanidade.

O fato é que para termos uma relevância profissional e social em um mundo totalmente conectado, precisamos estar alfabetizados tecnologicamente. Devemos ser capazes de entender e adotar as novas tecnologias em nossos processos rapidamente, aproveitando a produtividade proporcionada por essas ferramentas. Devemos participar ativamente do desenvolvimento das novas tecnologias, reforçando nossa vocação criativa e inovadora. Devemos transformar o processo educacional para gerarmos profissionais criativos e solucionadores de problemas. As atividades repetitivas, sim, deixarão de existir. Esse é o futuro mais próximo que podemos focar para lidarmos com tantos novos desafios. Quanto ao futuro mais distante…..Bom, vamos deixar todos esses pontos como cenas dos próximos capítulos.

*Maurício Figueiredo é Professor associado da Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (EST/UEA), co-fundador do LSI – Lab. de Sistemas Inteligentes da UEA, pesquisador do Ocean Center, professor da pós-graduação em Ciência de Dados da UEA e professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Informática da Universidade Federal do Amazonas. Engenheiro Eletricista pela Universidade Federal do Amazonas, mestre e doutor em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na execução e gestão de projetos de P&D em parceria com empresas e projetos acadêmicos na área de Computação. Atua em temas relacionados a Internet das Coisas, Sistemas Inteligentes e Aplicações de Aprendizado de Máquina Profundo.

2 Comentários

  1. Rayfran Rocha Lima
    25th maio 2023 Reply

    Ótima reflexão professor. Um abraço.

    • Amanda Mota
      07th jun 2023 Reply

      Agradecemos por seu feedback, Rayfran! Continue acompanhando o portal i9Brasil!

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