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Deep techs: Quando a ciência profunda se une à tecnologia

15 de abril de 2025

Problemas complexos que derivam de doenças, computação quântica, aquecimento global, nanotecnologia, sustentabilidade, e outros, podem assustar a alguns empreendedores.

Porém, isso não acontece com os founders de deep techs. Eles se encantam com a ideia de oferecer uma solução a problemas desafiadores.

As deep techs movimentam uma fatia interessante do mercado, com investimentos de US$ 79 bilhões em 2023, segundo o Boston Consulting Group.

Embora esse valor represente uma queda de 26% em relação ao pico de 2022, as deep techs continuam a atrair cerca de 20% dos investimentos globais em venture capital desde 2019.

Esta modalidade de startup, que está impactando o mercado de forma crescente, foi criada como conceito em 2014 pela autora e jornalista indiana Swati Chaturvedi.

Ela cunhou o termo com o objetivo de diferenciar empresas de “tecnologia profunda” das startups de internet, dispositivos móveis e comércio eletrônico.

O artigo do Sebrae – Saiba o que são as deep techs – faz uma previsão interessante sobre esse modelo de negócio.

“Entender o conceito de deep tech é o primeiro passo para empreender em uma das áreas mais promissoras dos próximos anos.”

De acordo com esse compilado, as deep techs são startups baseadas em investigação científica apoiada por patentes, que atuam com inovação complexa.

A especialista em inovação e deep techs, Tatyane Sales aprofunda essa compreensão afirmando que essas startups trabalham com inovações de pesquisas científicas.

“Essas são tecnologias complexas – tecnologias profundas – que requerem um desenvolvimento longo”, ela afirma.

Desafios e recompensas de fundar uma deep tech

Um pesquisa publicada em 2024 pela Data tech Serasa Experian mostra que 38% dos empreendedores “começaram do zero”, sem muito conhecimento sobre o tema da empresa.

Entre as empresas criadas nos últimos cinco anos, pouco mais da metade dos empreendedores já tinham algum conhecimento prévio.

53% já havia trabalhado com o tema em outras oportunidades e 15% tinham conhecimento como hobby.

Normalmente os founders de deep techs tem muito conhecimento sobre o serviço-fim que oferecem.

Por estarem oferecendo uma solução cientificamente elaborada, precisam conhecer bem a área.

Entretanto, o vice-presidente de PMEs da Serasa Experian, Cleber Genero, destaca que não se trata apenas disso.

“Empreender é uma jornada árdua que envolve várias etapas e tarefas. Além do serviço-fim que o empreendedor deve dominar, existem outras áreas adjacentes, como a parte administrativa e de recursos humanos”.

Tatyane Sales destaca um desafio a ser superado na fundação desse empreendimento afirmando que fundar uma deep tech exige

“alto investimento inicial por necessitar de pesquisa, laboratório, muitas vezes equipamentos que as startups não dispõem”.

A cientista Ceo da Biolinker, Mona Oliveira, comenta que a necessidade de dinheiro pode deixar o empreendedor sem saber o que fazer e conta o que fez par iniciar sua deep tech.

Repórter especial Keren Belem conhece a BioLinker e entrevista a Ceo Mona Oliveira. Fonte: arquivo pessoal.

“Eu consegui dinheiro do governo. Existem financiamentos não reembolsáveis na Finep (a nível nacional) e nas Faps (à nível estadual). Também tem as aceleradoras que podem investir no seu negócio”.

Outro obstáculo é a necessidade de especialistas em áreas específicas, dominando não apenas a ciência, mas as tecnologias para a pesquisa e implementação da solução na sociedade.

“Às vezes a gente não encontra (esses especialistas) no Brasil ou nas universidades e parcerias externas precisam ser solicitadas”, apontou Sales.

Outro ponto destacável, principalmente quando se trata de Brasil, é a incerteza regulatória na criação de algo novo.

“Elas (as startups) precisam de licenças dos mais diversos órgãos. Anvisa, Inpi, entre outros, de acordo com a área”, conclui Sales.

Portanto, o cientista empreendedor precisa construir uma equipe multidisciplinar, cuidar da comprovação técnica do seu produto/serviço e validação comercial.

Isso considerando todos os desafios anteriormente citados.

Felizmente, o percurso trilhado por esses empreendedores não é formado apenas por desafios.

Suas soluções são de fato disruptivas e geram grande impacto social e ambiental.

“Eles (founders) conseguem atrair investimentos significativos. Dados do Boston Consulting Group afirmam que o ecossistema pode atrair mais de 695 bilhões em 2025”, afirma Tatyane.

O cientista empreendedor que valida o seu negócio pode ter realização profissional e pessoal, pois a ciência a que ele se dedica transforma-se em algo rentável.

Pivotar para escalar o empreendimento

Para uma startup, a analogia mais representativa do conceito de pivot é o movimento de um jogador de basquete.

Ele rapidamente para a jogada, mantém uma das pernas fixas, observa e gira em torno do seu eixo para explorar diferentes opções de passe. 

Deste modo, pivotar consiste em girar em outra direção e testar novas hipóteses, mas mantendo sua base para não perder a posição já conquistada.

Um exemplo de pivot é o Paypal, que começou como uma empresa de troca de dinheiro virtual entre dispositivos portáteis (você se lembra do Palm?).

Com o tempo, os fundadores analisaram, giraram um pouco em volta do seu eixo e investiram nos micropagamentos e na troca de dinheiro via web.

Uma startup pode focar em outro desdobramento de sua solução com fins estratégicos.

Como conta Mona Oliveira, lembrando que a reviravolta da empresa se deu em uma estratégia de pivot.

Ela lembra que a startup começou com uma ideia científica disruptiva, mas não conseguiria colocar esse produto no mercado rápido pela falta do alto capital inicial.

“A gente pivotou, sem perder o nosso objetivo, entendendo que os clientes queriam a proteína. Eles não se importavam em como iríamos consegui-la.”

Foi então que a empresa passou a produzir a proteína de outra forma a fim de alcançar o capital necessário para produzir da maneira disruptiva que desejavam inicialmente.

Mona explica como pivotar proporcionou o surgimento de árvores de projetos, ou projetos que se deram como desdobramento desse “giro” que a empresa deu dentro de sua solução.

Logo, é desafiadora a jornada de um cientista empreendedor. Ele precisa conhecer bem a sua área e criar habilidades em áreas adjacentes.

Além disso, o networking no mercado e acompanhamento das oportunidades de investimento governamental são essenciais.

Que surjam muitas outras deep techs para lidar com os deep problems que a sociedade enfrenta na atualidade.

Por Keren Belem

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