Inteligência Artificial reduz a ação de fungos na castanha-do-brasil

Pesquisadores do Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA) estão desenvolvendo uma técnica inovadora, utilizando inteligência artificial para reduzir a ação do fungo Aspergillus flavus, um dos microorganismos causadores da aflatoxina, um agente tóxico com presença bastante comum na castanha-do-brasil, popularmente conhecida como castanha-do-pará ou da amazônia.
A iniciativa reflete o propósito do novo CBA de agregar valor e fortalecer as cadeias produtivas regionais, fomentando a geração de bionegócios e promovendo a bioeconomia na Amazônia. O atual objeto de estudo dos pesquisadores, a castanha-do-brasil, é reconhecida como um alimento funcional, rico em nutrientes essenciais.
Fonte abundante de selênio, a castanha contribui para o fortalecimento do sistema imunológico, tem propriedades antioxidantes que ajudam na prevenção do envelhecimento precoce e auxiliam na saúde cardiovascular. Além disso, é uma excelente opção para dietas equilibradas, graças ao seu alto teor de proteínas, gorduras boas e minerais como magnésio e fósforo.
Apesar de seus inúmeros benefícios, a cadeia produtiva da castanha enfrenta desafios relacionados à contaminação por aflatoxinas, ora pela ação do Aspergillus flavus, ora pelo Aspergillus parasiticus. Essas substâncias estão entre os principais fatores que comprometem a qualidade das sementes extraídas dos ouriços e podem causar sérios riscos à saúde humana, entre elas o câncer.
O gerente do Núcleo de Produtos Naturais do CBA, Edson Pablo Silva, explica que a contaminação da castanha ocorre quando microrganismos entram em contato com os ouriços e através de fissuras formadas durante as quedas das árvores, conseguem penetrar nas sementes. Embora a castanha tenha uma casca resistente, ela não está imune à ação dos fungos.
“Quando o ouriço cai das castanheiras, ele é, teoricamente, estéril. No entanto, as quedas de alturas de 30 a 40 metros causam fissuras que permitem o contato com o solo, onde existem inúmeros microrganismos, incluindo os fungos produtores de toxinas. Entre eles, o Aspergillus flavus é o maior problema, pois produz as aflatoxinas, substâncias tóxicas e cancerígenas, capazes de causar reações graves e até mesmo levar à morte”, explica Edson.
Os estudos realizados pelo CBA têm como objetivo reduzir os níveis de toxinas em sementes contaminadas, utilizando processos de inativação dos microrganismos ou até de quebra molecular para neutralizar as aflatoxinas. Essa iniciativa conta com o apoio da FINEP, por meio do Edital de Subvenção Econômica à Inovação – Bioeconomia e Transformação Digital da Amazônia (01/22).
“Nosso objetivo é diminuir os níveis dessas toxinas a limites aceitáveis, quebrando suas moléculas e diluindo sua concentração. Assim, pretendemos garantir um produto mais seguro e viável comercialmente”, afirma o pesquisador.
O Amazonas é o maior produtor de castanha-do-brasil no País. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o estado alcançou uma produção de 11.291 toneladas em 2023. No Amazonas, os municípios de Tapauá, Beruri e Tefé concentram a maior quantidade de produtores, sendo referência na produção de sementes de alta qualidade.
Acre e Pará ocupam o segundo e terceiro lugares na produção, com 9.473 e 9.390 toneladas, respectivamente. Juntos, os três estados respondem por 80% da produção nacional, consolidando-se como o núcleo principal do extrativismo da castanha.
Os estudos desenvolvidos pelo CBA para reduzir os índices de contaminação das aflotoxinas da castanha-do-brasil contam com o apoio da Getter S.A, uma startup que atua com ênfase na saúde e segurança do trabalho, gestão de processos e controle de qualidade por meio da aplicação de Inteligência Artificial. Essa é a primeira iniciativa da empresa no âmbito da Bioeconomia.
O CEO da Getter, Rufo Pagani, explica que a tecnologia em desenvolvimento pela Getter se propõe a aplicar uma técnica de luz UV para descontaminar a castanha e fazer a verificação de sua qualidade, por meio de técnica que será validada com todo o suporte laboratorial do CBA.
“Nós estamos criando uma máquina que descontamina e também avalia o tamanho e a característica da castanha, se ela tá quebrada, pequena, média, grande. E mensura a quantidade produzida, de onde veio essa castanha, gera uma rastreabilidade desse produto e garante os padrões de qualidade para uma exportação do produto”, afirmou o CEO.
A Abufari Produtos Amazônicos, uma agroindústria especializada no beneficiamento e comercialização de castanhas também integra a parceria com o CBA e a Getter. Com sede em Tapauá, município distante 448 quilômetros de Manaus, localizado na região do Alto Solimões, a empresa se destaca pela excelência na qualidade das sementes extraídas, reforçando o papel da região como um polo de referência para o setor.
“Todo e qualquer desenvolvimento tecnológico que nos permita aperfeiçoar a nossa cadeia produtiva agroindustrial é sempre muito importante, não só pelo fator da qualidade da produção, mas também no sentido de desenvolver novas tecnologias e aplicá-las ao nosso processo agroindustrial”, disse o diretor da Abufari, Leonardo Baldissera.
Atualmente, o projeto está na fase 1 em que os pesquisadores estão atuando na caracterização do produto, ajuste das metodologias e na construção do equipamento que vai auxiliar na redução da atuação do fungo.
i9 Brasil, com informações do CBA.
Foto: Robervaldo Rocha / CBA
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