Não deixem a inovação na Amazônia morrer!!! Um grito verdadeiro à COP30

*Por Bruno Alencar, CEO da Amazonia Venture Builder. Atua há mais de 12 anos em desenvolvimento de novos negócios na Amazônia, com projetos industriais, projetos de P&D e captação de recursos.
A COP30 será um divisor de águas para a Amazônia. Mas não basta discursos, painéis e compromissos assinados em Belém. A pergunta que fica é: quem realmente está disposto a fazer a inovação acontecer na floresta?
Hoje, há uma avalanche de discursos sobre investimentos verdes:
- Grandes empresas globais falam em ESG.
- Fundos bilionários se apresentam como “verdes”.
- Bancos e instituições financeiras criam produtos de impacto.
Mas onde está esse impacto, de fato, na ponta da Amazônia?
A realidade é dura: até hoje, não vimos grandes investimentos milionários em startups amazônicas. Os poucos que acontecem, são pulverizados, restritos a projetos pequenos ou a iniciativas desconectadas da realidade local.
Por que essa desconexão?
Apesar do expressivo desempenho econômico da Zona Franca de Manaus, evidenciado pelo faturamento recorde de R$ 204,39 bilhões em 2024, representando um crescimento de 16,24% em relação a 2023, os recursos não chegam em quem faz a diferença no dia a dia.
A burocracia e a centralização do capital travam o ecossistema. Muitos dos grandes players locais ainda estão mais preocupados em lucrar para seus próprios stakeholders do que em gerar impacto verdadeiro.
Além disso, embora as empresas do PIM recolham anualmente cerca de 2 bilhões de reais para pesquisa e desenvolvimento, esses recursos nem sempre são efetivamente aplicados na região. O governo federal tem confiscado parcelas crescentes desses recursos desde os anos 90, enquanto o Estado apresenta baixos índices de desenvolvimento humano (IDHs) no interior.
E aqui, um ponto crucial: será que estamos fazendo isso da forma certa?
- Será que as estruturas tradicionais de venture capital e P&D atendem às especificidades da Amazônia?
- Será que os filtros para acesso a investimentos consideram as realidades da floresta, das distâncias, da logística, da inclusão social?
- Ou estamos aplicando o mesmo modelo de sempre, esperando um resultado diferente?
A falta de investimentos significativos em startups amazônicas levanta questionamentos sobre a eficácia das políticas públicas e dos modelos de financiamento existentes. É necessário repensar as estratégias para garantir que os recursos gerados na região sejam direcionados de forma eficaz para promover a inovação e o desenvolvimento sustentável.
Oportunidade ignorada: Amazônia como alavanca de inovação
Estamos na metade da terceira década do século XXI, a era da tecnologia, da digitalização, da transição energética. E, ainda assim, o Norte do Brasil segue sub-representado nas grandes rodadas de investimento, nas startups com valuation bilionário, nos cases de sucesso globais.
E não é por falta de talento:
- Temos profissionais altamente qualificados.
- Temos criatividade, capacidade de inovar com poucos recursos.
- Temos a maior biodiversidade do planeta — uma plataforma natural para bioeconomia, biotecnologia e soluções sustentáveis.
Mas não temos acesso a um capital estruturado para o nosso contexto.
Capital diferente para desafios diferentes
O que a Amazônia precisa não é caridade, nem soluções pasteurizadas importadas de outros ecossistemas. O que a Amazônia precisa é de um modelo de investimento inteligente, paciente, estruturado para impacto socioambiental com viabilidade econômica real.
Os desafios amazônicos são únicos e complexos: logística difícil, distâncias continentais, ausência de infraestrutura básica em muitas áreas, além das especificidades ambientais e culturais. Modelos tradicionais de venture capital, focados em retorno rápido e de curto prazo, simplesmente não funcionam aqui.
Apesar de ser responsável por um faturamento superior a R$ 204 bilhões anuais via Polo Industrial de Manaus (PIM), os recursos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) oriundos da Suframa e de incentivos fiscais ainda são subaproveitados no fomento direto a startups e tecnologias amazônicas.
Hoje, menos de 3% dos valores captados por esses mecanismos chegam de fato às startups ou a projetos de inovação aplicada. A maior parte fica retida nos institutos ou é diluída em iniciativas que pouco dialogam com a realidade do ecossistema empreendedor da floresta.
Portanto, a resposta é clara:
- Precisamos de venture builders com atuação local, que compreendam as dores e as potencialidades da Amazônia, como a própria AVB faz.
- Precisamos de fundos de impacto e corporate venture builders com visão de longo prazo, que aceitem os ciclos mais lentos, porém mais sólidos, da bioeconomia e das tecnologias amazônicas.
- Precisamos de políticas públicas mais ágeis e desburocratizadas, que facilitem o acesso aos recursos de PD&I, permitindo que pequenos empreendedores e startups tenham chances reais de desenvolvimento.
- Precisamos de investidores com visão holística, que compreendam que o ROI (Retorno sobre Investimento) da Amazônia não é só financeiro — ele é ambiental, social, cultural e global.
Investir em inovação amazônica é investir no futuro do planeta. É investir na última grande fronteira de biodiversidade do mundo, com potencial de gerar soluções para crises globais como segurança alimentar, mudanças climáticas, saúde e energia renovável.
Se a Amazônia não for protagonista da nova economia verde, quem será?
Chegou a hora de entender que um capital diferente é necessário para desafios diferentes. E isso exige coragem, inteligência e compromisso verdadeiro com o impacto.
Somos vida inteligente na floresta.
Na Amazônia Venture Builder, já desenvolvemos e estamos desenvolvendo tecnologias de ponta para limpeza de rios, bioplásticos com resíduos do açaí, mobilidade elétrica, telemedicina, logística de impacto, fintechs de inclusão digital, entre outras soluções.
O que nos falta não é competência. É credibilidade e capital.
O grito da floresta para a COP30:
Não deixem a inovação na Amazônia morrer!
Não existe bioeconomia sem startups. Não existe sustentabilidade sem tecnologia local. Não existe futuro sem investir em quem vive e empreende na Amazônia.
A COP30 será lembrada como o evento onde a Amazônia se tornou protagonista ou como mais uma oportunidade perdida.
Cabe a todos nós decidir.
O futuro da floresta depende do investimento certo, no lugar certo, com as pessoas certas.