Problema ou oportunidade? Conheça o camarão azul gigante

Nos últimos meses, pescadores do Pará começaram a capturar cada vez mais um camarão exótico de grande porte.
O nome científico do animal é Macrobrachium rosenbergii, conhecido como camarão-gigante-da-Malásia, ou camarão azul.
Ele foi introduzido no Brasil em 1977 para fins de aquicultura.
Porém ele escapou para o ambiente natural e tem se expandido rapidamente pela foz do Rio Amazonas.
O crustáceo é bem diferente do tradicional camarão regional que os ribeirinhos estão acostumados a pescar na região.
Sua estrutura conta com patas longas e a cauda na coloração azul, além do corpo que é amarelado ao cinza.
A espécie é carnívora, agressiva e canibal, predando outros animais aquáticos, incluindo peixes e camarões nativos.
Pescadores que tem a pesca como empreendimento já incluíram o crustáceo entre os produtos que oferecem.
Foz do Amazonas e sua importância ambiental
A foz do rio Amazonas, que despeja milhões de litros de água no Oceano Atlântico, marca o fim do caminho de quase sete mil quilômetros do rio considerado o mais extenso do mundo.
A parte final desse imenso curso de água cria habitats únicos no Oceano Atlântico.
Por segundo, cerca de 300 milhões de litros de água doce avançam para o Oceano Atlântico.
Isso corresponde a quase 20% de tudo que os rios do mundo levam para os mares, influenciando assim, os ecossistemas aquáticos existentes mesmo a longas distâncias da foz.
O grande aporte de água despejado pelo Amazonas também tem impacto nos processos evolutivos de espécies do Atlântico.

De acordo com um estudo publicado na revista científica Journal of Biogeography, na edição de agosto de 2022, a pluma gerada pelo rio forma uma barreira fluida e porosa.
A qual separa várias espécies de organismos marinhos encontradas no Caribe daquelas que vivem ao sul da foz do Amazonas.
Pesquisa da Agência Fapesp, instituição pública de fomento à pesquisa acadêmica do governo de São Paulo, revela que nos últimos 2,4 milhões de anos, cerca de 60 espécies de peixes surgiram por influência da pluma.
Uma espécie invasora em expansão
Originário do Indo-Pacífico, o M. rosenbergii é um dos maiores camarões de água doce do mundo.
Os machos dominantes podem atingir até 32 centímetros de comprimento, enquanto as fêmeas chegam a 25 centímetros.
Uma característica marcante são suas garras longas, que podem dobrar o tamanho do corpo.
Além disso, a coloração varia conforme a fase de desenvolvimento: os juvenis apresentam um padrão tigrado, enquanto os adultos possuem uma tonalidade azulada.
A espécie tem um ciclo de vida que depende de águas salobras para o desenvolvimento larval, o que normalmente limitaria sua expansão em áreas continentais.

No Pará a espécie encontrou condições favoráveis para a reprodução, com fêmeas ovígeras sendo capturadas no estuário (Estuário é um ambiente aquático de transição entre um rio e o mar), indicando que a proliferação já está ocorrendo no ambiente natural.
O que se sabe até agora
Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará informou que não foi notificada sobre o caso.
Especialistas alertam que a proliferação do M. rosenbergii pode representar um risco ambiental significativo.
“Eles se alimentam da nossa fauna local, então acaba tendo um desequilíbrio. Não tem predadores naturais e isso vai causar problemas ambientais”, destacou o Biólogo, Victor Hugo Costa.
A voracidade desse animal pode levar a um desequilíbrio na biodiversidade local, afetando populações já estabelecidas.
Além disso, o crustáceo é conhecido por ser um transmissor do vírus da WSS (White Spot Syndrome), uma doença que pode afetar espécies nativas de camarões e causar prejuízos à pesca.
Por Keren Belem