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Capitais Sociais e Culturais os diferenciais do profissional do Século XXI

24 de março de 2024

*Por: José Renato Sátiro Santiago

Termo que possui como conceito convencional ser o valor investido por cada um dos sócios para começar um negócio, o capital social tende a ter entendimento diverso quando aplicado às pessoas, ou melhor, quando tomado por conta das definições que fundamentam aspectos humanos. Durante conversa com um grande amigo com quem compartilhara minhas experiências em determinados projetos corporativos, ele me pontuou com uma afirmação que me surpreendeu: “Zé, interessante notar este capital social que você construiu”. Boquiaberto, veio em minha mente que, talvez ele tenha confundido o conceito de capital social com o de networking ou com algum outro termo relacionado com as relevantes experiências que tivera, quem sabe alguma relação com gestão do conhecimento e o capital intelectual desenvolvido a partir dele. Não me furtei a pesquisar e daí me veio uma grande janela de oportunidades, aprendizados únicos.

Segundo conceito estruturado pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, capital social é o nome dado ao conjunto de recursos sociais utilizados por uma pessoa para agir e influenciar outras pessoas e/ou instituições. Bourdieu costumava destacar o quanto caberia o poder ser exercido de maneiras mais sutis, sem que houvesse a adoção de formas explícitas de dominação. A pesquisa dele, desenvolvida entre os anos de 1960 e 1970, pontuava sobre a presença de outros valores que poderiam ser bem mais relevantes que o capital financeiro como atributos necessários para a obtenção de poder, palavra que talvez possa ser substituída, sobretudo, em tempos atuais, as condições de influenciar membros do ecossistema do qual seus possuidores façam parte.

Para Bourdieu, o capital social está presente, sobretudo, por conta daqueles que se relacionam com pessoas importantes e/ou reconhecidas em seus segmentos de atuação e/ou áreas de convivência. Eis que o networking, realmente, se faz presente, mas não de forma solitária. Ele é composto basicamente de duas maneiras. A primeira, de forma mais passiva, a partir das relações que herdamos de nossas famílias e/ou das empresas, organizações e grupos dos quais fazemos parte. Podemos também chamar de herança social. Para aqueles que não tiveram presentes nesses berços, resta a segunda alternativa: ser agente de transformação em prol da criação/estruturação desse capital. Inegavelmente uma construção mais árdua, mas, certamente, com condições de alcançar igual valia a maneira anterior. Por conta dessas redes de relacionamento baseadas muito por conta da confiança e cooperação desenvolvidas pelos indivíduos em sua vida pessoal e profissional, são facilitados os acessos à informação e ao conhecimento, o que é tão estratégico e essencial hoje em dia.

De forma complementar ao social, o sociólogo francês destacou também como necessário o desenvolvimento de outro capital, o cultural. Mais fundamentado pelos conhecimentos que podemos desenvolver, ele possui estreita relação com questões comportamentais, associadas principalmente com postura que costumamos adotar, nosso modo de falar e forma como nos relacionamos entre diferentes culturas. Também se fazem presentes, por conta dos títulos, diplomas, cargos e conquistas sociais alcançadas, frutos de nossos esforços intelectuais e sociais, comportamentos e reconhecimentos dos quais merecemos ao longo de nossas trajetórias. Mas há também um viés material a ser considerado e que influencia fartamente com esta construção. O nosso modo de vestir, os locais que costumamos frequentar e, até mesmo, os produtos adquiridos e serviços contratados podem contribuir muito para complementar este capital.

Pensar e agir são os principais combustíveis a serem utilizados, este entendimento vai de encontro ao fato de Bourdieu acreditar que cabe aos intelectuais não somente desenvolver pesquisas e ações em prol da obtenção de conhecimento — o pensar, mas principalmente, colocá-los em prática — o agir. Neste ponto nota-se um alinhamento ao conceito desenvolvido por outro grande nome, Peter Drucker, que costumava destacar que apenas o conhecimento aplicado gera competência, algo decisivo aos profissionais do século XXI.

*José Renato Sátiro Santiago é Doutor e Mestre em Engenharia de Produção pela USP. Consultor nas áreas de Gestão da Inovação, Gestão do Conhecimento, Capital Intelectual, Gestão de Pessoas, Gestão de Projetos e Lições Aprendidas.

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