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O desafio do emprego em tempos de Inteligência Artificial

16 de junho de 2023

Por Maurício Figueiredo*, professor da UEA e pesquisador nas áreas de Internet das Coisas, Sistemas Inteligentes, Aprendizado de Máquina Profundo, entre outros.

O ano era 2013, e o líder de uma grande potência mundial afirmou durante o lançamento de um programa de ciência da computação para crianças: “aprender essas habilidades não é só importante para o seu futuro. É importante para o futuro do nosso país”. Em mais um movimento de seu programa de STEM (Science, Technology, Engineering and Math), Barack Obama mostrava a importância que as novas tecnologias teriam em todas as profissões do futuro.

Agora, somente 10 anos depois, falamos dos perigos das tecnologias de Inteligência Artificial substituírem muitas atividades humanas e muitas profissões deixarem de existir. Comentei brevemente sobre isso no último artigo, destacando que a IA tem preocupado cientistas e demais profissionais por seus rápidos avanços e grandes impactos, a exemplo do chatGPT. Então, como lidar com esse irreversível avanço tecnológico e evitar que seu emprego seja substituído por um robô?

Se você é da área de tecnologia, fique um pouco mais tranquilo. As novas tecnologias precisarão de constante monitoramento, manutenção e atualização. Elas precisarão ser aplicadas em diversos problemas práticos da sociedade e, além disso, novas tecnologias sempre continuarão a ser demandadas para novos problemas. Engenheiros, cientistas da computação, desenvolvedores e técnicos, com a constante atualização de seus conhecimentos, estão entre os profissionais mais disputados no mercado de trabalho e assim continuarão por bastante tempo.

Se você realiza atividades repetitivas, previsíveis e de baixo nível de julgamento para tomada de decisões, reveja com urgência sua qualificação e procure se posicionar melhor no mercado de trabalho. Uma reportagem publicada pela BBC, ainda em 2015, alertou para essa tendência de riscos de automação em algumas atividades humanas. Lá é possível constatar rankings de profissões com seus percentuais de risco, e aquelas com maior risco são justamente as com as características listadas anteriormente. Exemplos de profissões com maior risco são: digitadores, operadores de máquinas, empacotadores, telefonistas, inspetores/seletores de produtos e técnicos de laboratórios. Você pode pesquisar sua atividade e ver considerações sobre isso no site willrobotstakemyjob.com.

Já na outra ponta da lista, entre as profissões que apresentam menor risco de automação, estão: enfermeiros, terapeutas, psicólogos, gerentes de TI e educadores em geral. São as profissões onde são necessárias habilidades sociais, de negociação e originalidade. Realmente, os avanços da inteligência artificial com seus algoritmos de aprendizagem de máquina são ótimos em descobrir e reproduzir padrões, mas são incapazes de relacionar conhecimentos, avaliar resultados e considerar o contexto humano para a tomada de decisões. Pelo menos, ainda. Por mais que resultados obtidos por IAs, como a do chatGPT, sejam impressionantes e convincentes, sabemos que há necessidade de análise crítica desses e considerações em níveis mais altos de abstração para seu uso efetivo e responsável.

Mas o fato é que as ferramentas da Inteligência Artificial têm se mostrado muito efetivas e produtivas em todas as áreas do conhecimento humano. Como exemplo, cito que redes neurais têm sido usadas com muito sucesso no diagnóstico de imagens médicas, com resultados estatísticos, muitas vezes, superiores aos de especialistas. Por exemplo, o diagnóstico de doenças de pele, hoje, pode ser realizado com uma IA que processa a imagem capturada por um celular. Quantos passos e custos não podem ser otimizados com uso dessa ferramenta? Mesmo que você considere que a decisão final será dada por um médico, isso já ajuda na triagem e na velocidade do atendimento. Ainda, na área de saúde, IAs ajudam a investigar e descobrir possibilidades de novos medicamentos para novos tratamentos.

Em outro exemplo, podemos ver como a IA do chatGPT pode ser muito produtiva na busca de conteúdos e na proposta de redações de e-mails e outros documentos. Imagina, por exemplo, o impacto que isso causará na produtividade de um profissional do direito. IAs sendo usadas para buscar mais eficientemente jurisprudências, principais argumentações, podendo gerar modelos de petições e outras comunicações típicas da função. O trabalho de 10 profissionais poderá ser realizado por 2 ou 3.

Com a produtividade obtida com IA, todas as profissões tenderão a usá-la. Aqueles mais antenados, já buscam qualificação complementar. Por exemplo, temos visto profissionais da saúde formados e acadêmicos buscando cursos de inteligência artificial e internet das coisas para entenderem seus potenciais e impactos. Temos visto, cada vez mais, interesse de profissionais de Economia, Administração e Direito em cursos e palestras de tecnologia. Então, para não ter sua atividade ameaçada, seja ela qual for, considere se qualificar e acompanhar os novos avanços, em especial, da IA.

Não haverá mais espaço para acomodação no modus operandi. Como disse, recentemente, Rob Thomas, CCO da IBM: “a IA pode não substituir Administradores, mas Administradores que usam IA substituirão os que não a usam”. Você pode substituir a função de Administrador, na frase, pela sua profissão. Vamos estudar IA!

*Maurício Figueiredo é Professor associado da Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (EST/UEA), co-fundador do LSI – Lab. de Sistemas Inteligentes da UEA, pesquisador do Ocean Center, professor da pós-graduação em Ciência de Dados da UEA e professor colaborador do Programa de Pós-graduação em Informática da Universidade Federal do Amazonas. Engenheiro Eletricista pela Universidade Federal do Amazonas, mestre e doutor em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na execução e gestão de projetos de P&D em parceria com empresas e projetos acadêmicos na área de Computação. Atua em temas relacionados a Internet das Coisas, Sistemas Inteligentes e Aplicações de Aprendizado de Máquina Profundo.

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